tenho medo de te deixar entrar e acabar gostando da decoração que tu fizer aqui dentro porque falar com você me da a sensação de que ao pentear teus medos vou descobrir que são os mesmos que os meus
tenho medo quando nossas ideologias batem e nossas bagagens combinam porque não sei se tenho coragem de comparar nossos vazios e descobrir que eles se entrelaçam e se preenchem e fazem morada um no outro
tenho medo de segurar tua mão porque não quero ter que solta-la um dia ou me manter segurando ela com receio e o mundo segue nos obrigando
tenho medo quando te deixo ler o que eu escrevo porque não sei se você tá preparado pra esse escárnio todo que mora em mim
porque tenho medo que você goste da minha falta de vírgulas ou sinta o meu desespero por via dela
tenho medo de criar teorias com você de madrugada e encontrar as mesmas dúvidas nas entrelinhas e tenho mais medo ainda quando você me conta coisas que ninguém mais sabe porque você gosta de ouvir sobre meus traumas de infância e ninguém nunca gostou
tenho medo da explosão que me toca e transcende porque duas pessoas são capazes de se destruir e eu não quero quebrar você enquanto tento te remendar e é sempre isso que eu faço
tenho medo porque não existe proteção da crueldade do mundo e me dói ser incapaz de te guardar de toda dor e de toda falta de luz
tenho medo que nenhum amor um dia nos ampare
te toco de longe com os olhos fechados e a alma aberta
meu medo se apascenta
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